sábado, 22 de dezembro de 2012

Natal, lugar em que "tudo" começou...


Segue abaixo a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral, no dia 22.12.2010.
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     Queridos irmãos e irmãs:
     Com esta última audiência antes das festas do Natal, nós nos aproximamos, trêmulos e cheios de admiração, do "lugar" onde tudo começou por nós e para a nossa salvação, onde tudo encontrou seu cumprimento, onde se encontraram e se cruzaram as esperanças do mundo e do coração humano com a presença de Deus.
     Podemos, desde já, saborear a alegria por essa pequena luz que se vislumbra, que, da gruta de Belém, começa a se espalhar por todo o mundo. No caminho do Advento, a liturgia nos convidou a viver, esteve conosco para acolher com disponibilidade e gratidão o grande acontecimento da vinda do Salvador e para contemplar, maravilhados, sua entrada no mundo.
     A alegre esperança, característica dos dias que precedem o Santo Natal, é certamente a atitude fundamental do cristão que anseia por viver com fruto o renovado reencontro com Aquele que vem habitar entre nós: Cristo Jesus, o Filho de Deus feito homem. Voltamos a encontrar esta disposição do coração e a tornamos nossa, naqueles que em primeiro lugar acolheram a vinda do Messias: Zacarias e Isabel, os pastores, as pessoas simples e, especialmente, Maria e José, que experimentaram em primeira pessoa o tremor, mas sobretudo a alegria pelo mistério deste nascimento. Todo o Antigo Testamento é uma única grande promessa, que deveria ser realizada com a vinda de um salvador poderoso. Disso dá testemunho em particular o livro do profeta Isaías, que nos fala dos sofrimentos da história e de toda a criação por uma redenção destinada a voltar a dar novas energias e nova orientação ao mundo inteiro. Assim, junto à espera dos personagens das Sagradas Escrituras, encontra espaço e significado, ao longo dos séculos, também a nossa espera, a que nestes dias estamos vivendo e que nos mantém em pé durante todo o percurso da nossa vida. Toda a existência humana, de fato, é incentivada por este profundo sentimento, pelo desejo de que o mais verdadeiro, o mais belo e a maior realidade que entrevimos e intuímos com a mente e com o coração, possa vir ao nosso encontro e tornar-se concreto diante dos nossos olhos, voltando a levantar-nos.
   

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Advento: um mistério que envolve inteiramente o cosmo e a história


Segue abaixo a transcrição do pronunciamento de SS. Bento XVI, por ocasião da tradicional oração do Angelus, na praça de São Pedro, no dia 2.12.2012. Nessa ocasião o papa nos incentivar a vivenciar intensamente a mística do Advento para nos prepararmos espiritualmente para celebrarmos o Natal:

Queridos Irmãos e irmãs
     Hoje a Igreja inicia um  novo Ano Litúrgico, um caminho que é enriquecido pelo Ano da Fé, 50 anos após a abertura do Concilio Ecumênico Vaticano II.  O primeiro tempo deste itinerário é o Advento, formado, no Rito Romano, pelas quatro semanas que antecedem o Natal do Senhor, isto é, a Encarnação. A palavra “advento” significa “vinda” ou “presença”. No mundo antigo indicava a visita do rei ou do imperador a uma província; na linguagem cristã refere-se à vinda de Deus, à sua presença no mundo; um mistério que envolve inteiramente o cosmo e a história, mas que conhece dois momentos culminantes: a primeira e a segunda vinda de Jesus Cristo. A primeira é a própria encarnação; a segunda é o retorno glorioso ao fim dos tempos. Estes dois momentos, que cronologicamente são distantes – e não se sabe o quanto -, tocam-se profundamente, porque com sua morte e ressurreição Jesus já realizou a transformação do homem e do cosmo que é a meta final da criação. Mas antes do final, é necessário que o Evangelho seja proclamado a todas as nações, disse Jesus no Evangelho de São Marcos (cf Marcos 13,10). A vinda do Senhor continua, o mundo deve ser penetrado pela sua presença. E esta vinda permanente do Senhor no anuncio do Evangelho requer continuamente nossa colaboração; e a Igreja, que é como a Noiva, a esposa prometida do Cordeiro de Deus crucificado e ressuscitado (cf Ap 21,9), em comunhão com o Senhor colabora nesta vinda do Senhor,  na qual ja inicia o seu retorno glorioso.

     A isto nos convida hoje a Palavra de Deus, traçando a linha de condução a seguir para estarmos prontos para a  vinda do Senhor. No Evangelho de Lucas, Jesus diz aos discípulos: “Os vossos corações não fiquem sobrecarregados com dissipação e embriaguez e dos cuidados da vida... vigiai em cada momento orando” (Lucas 21, 34.36). Portanto, sobriedade e oração. E o apostolo Paulo acrescenta o convite a “crescer e avantajar no amor” entre nos e com todos, para tornar nosso coração firme e irrepreensível na santidade (cfr 1 Ts 3,12-13). Em meio aos transtornos do mundo, ou ao deserto da indiferença e do materialismo, os cristãos acolham do Senhor a salvação e a testemunhem com um modo diverso de viver, como uma cidade colocada sobre um monte. “Naqueles dias- anuncia o profeta Jeremias- Jerusalém viverá tranquila, e será chamada: Senhor – nossa – justiça (33,16). A comunidade dos crentes é sinal do amor de Deus, da sua justiça que é já presente e operante na historia mas que ainda não foi plenamente realizada, e portanto, deve ser sempre esperada, invocada, procurada com paciência e coragem.
     A Virgem Maria encarna perfeitamente o espirito do Advento, feito da escuta de Deus, do desejo profundo de fazer a sua vontade, de alegre serviço ao próximo. Deixemo-nos guiar por ela, para que o Deus que vem não nos encontre fechados ou distraídos, mas possa, em cada um de nos, estender o seu reino de amor, de justiça e de paz.

Catequese de São Gregório de Nazianzo sobre a Encarnação do Verbo Divino



Ó admirável intercâmbio!
Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo (Séc. IV)


     O próprio Filho de Deus, que existe desde toda a eternidade, o invisível, o incompreensível, incorpóreo, princípio que procede do princípio, a luz nascida da luz, a fonte da vida e da imortalidade, a expressão do arquétipo, divino, o selo inamovível, a imagem perfeita, a palavra e o pensamento do Pai, vem em ajuda da criatura feita à sua imagem, e por amor do homem se faz homem. Para purificar aqueles de quem se tornou semelhante, assume tudo o que é humano, exceto o pecado. Foi concebido por uma Virgem, já santificada pelo Espírito Santo no corpo e na alma, para honrar a maternidade e ao mesmo tempo exaltar a excelência da virgindade; e assumindo a humanidade sem deixar de ser Deus, uniu em si mesmo duas realidades contrárias, a saber, a carne e o espírito. Uma delas conferiu a divindade, a outra recebeu-a.