quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A atualidade e importância da Catequese de Iniciação Cristão para a Igreja...


Nos séculos passados as Américas presenciaram uma intensa ação da Igreja entre seus povos. De tal forma que o anúncio explícito de Jesus Cristo e a pregação intensa do Evangelho tornaram a sociedade pagã em cristã: vivenciávamos o fenômeno da cristandade.
Nesse clima de cristandade tudo leva à prática cristã, não se faz necessário a existência do antigo modelo catecumenal de iniciação pois o grande esforço da ação da Igreja era alimentar e fortificar a fé.
A catequese, em geral para crianças, dedicava-se mais à doutrina, e não a proporcionar o encontro pessoal e transformador com Jesus Cristo. Não se falava em uma catequese que levasse o catequizando a uma adesão a Jesus Cristo, pois esta adesão já era suposta como fruto da ação da família e da sociedade cristã.
Todavia, o mundo mudou, saindo do eixo da religião para a secularização. De tal modo, que podemos dizer que o Evangelho já não permeia toda sociedade com a força que possuía anteriormente. Na verdade, em muitos lugares, notadamente nos grandes centros urbanos, já se vivencia uma espécie de pós-cristandade.
O que se percebe é que não foi o Evangelho que perdeu sua força de atração e transformação, mas sim a realidade eclesial (tanto Igreja-estrutura como Igreja-povo) que não soube se atualizar com relação as novas demandas da humanidade. A mensagem continuava essencial e vital, mas os meios e mecanismos de comunicação da mensagem se mostravam ineficazes pois tinham perdido a capacidade de interessar ao homem moderno.
A Igreja é afetada pelos problemas da sociedade moderna, suas angustias e aspirações, seus questionamentos e incertezas. Esta sociedade contemporânea racionalizou o divino e diversificou as experiências do sagrado conseguindo a façanha de produzir homens com forte tendência a religiosidade individualista mas com pouquíssima tolerância e abertura as religiões institucionais.
É claro que os cristãos, principalmente as novas gerações, foram profundamente influenciados por estes valores (ou melhor, contra-valores), onde podemos perceber várias situações paradoxais:
·         Inúmeros cristãos que não foram iniciados adequadamente na sua fé, tornaram-se como estrangeiros em sua própria terra, onde desconhecem a linguagem litúrgica, o sentido doutrinal e moral de sua fé, e infelizmente, os caminhos de comunicação com o seu Mestre;
·         Outros tantos não concluíram sua iniciação cristã, e por conseqüência, não conseguem dar o passo a mais, aquele passo tão importante para assumir os compromissos batismais implícitos em sua iniciação.
Diante de uma massa de cristãos omissos ou apáticos, a Igreja começou um processo de reflexão profunda sobre que fatores teriam gerado tal fenômeno, e o que poderia ser feito, como também, qual a forma da grande nau de Cristo entrar nos mares da modernidade sem perder a sua essência ou se descuidar de sua missão. Neste contexto, o Concílio Vaticano II representou este grande momento de reflexão e produção de luzes para caminhada futura da Igreja, a qual buscou retomar e renovar sua consciência missionária.
A Igreja sabe-o bem, ela tem a consciência viva de que a palavra do Salvador – “Eu devo anunciar a Boa Nova do reino de Deus” (Lc 4,43) – se lhe aplica com toda a verdade. [...] “Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja”; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgente. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição. (Evangelii Nuntiandi n. 14)
A Evangelização (proclamação da Boa Nova) retornou com plena força ao centro de toda ação da Igreja. Anunciar a pessoa de Jesus e sua Boa Nova a todos os povos, e agora mais do que nunca aos que já crêem (mas vivem como os que não crêem), é de importância vital e fundamental para a Igreja.
Afinal, “o desafio da Igreja é a evangelização do mundo de hoje, mesmo em territórios onde a Igreja já se encontra implantada há mais tempo. Nossa realidade pede uma nova evangelização” (Diretório Nacional de Catequese n. 29)
Evangelização, ou melhor, Querigma, é o primeiro anúncio, a proclamação fundamental da pessoa e da mensagem impactante e transformadora de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Proclamação tão forte e inovadora que provoca transformações profundas no interior do evangelizado, que o leva a querer mudar de comportamento, de mentalidade, de vida...
O acontecimento de Cristo é, portanto, o início desse sujeito novo que surge na história e a quem chamamos discípulos: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”. Isso é justamente o que, com apresentações diferentes, todos os evangelhos nos têm conservado como sendo o início do cristianismo: um encontro de fé com a pessoa de Jesus. (Documento de Aparecida n.  243)
E a catequese, é claro, é essencial nesse processo, pois deve permitir a ressonância (fazer eco, fazer ressoar) desse anúncio primeiro, desenvolvendo-o, aprofundando-o, alimentando-o.
Mas eis o dilema atual, como fazer ressoar o silêncio? Como fazer ressoar a voz do divino Pastor se as ovelhas jamais a ouviram?
Afinal, para que haja catequese, é imprescindível a existência de um som, uma voz, um conteúdo prévio que torne possível o eco, a ressonância.
Durante décadas, a catequese partiu da suposição de que este som, este fundamento inicial, já foi colocado e, com a catequese, pretende-se desenvolvê-lo. Herdando uma situação de cristandade, nós supomos que nossos interlocutores (destinatários) comparecem à catequese já evangelizados, pelo menos através de suas famílias.
Neste contexto, compreende-se a preocupação demonstrada pelo episcopado latino-americano na Conferência de Aparecida:
A iniciação cristã, que inclui o querigma, é a maneira prática de colocar alguém em contato com Jesus Cristo e iniciá-lo no discipulado. (cf. 288)
Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades um processo de iniciação na vida cristã que comece pelo querigma e que, guiado pela Palavra de Deus, conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão. (289)
Em consonância com este entendimento, pe. Luiz Alves[1] afirma que:
[...] dificilmente se poderá entender uma catequese que não seja precedida por uma ação de primeiro anúncio, de proclamação missionária, enfim, de uma proposta querigmática. O ensino doutrinal não pode ser considerado como catequese em sentido próprio, a não ser onde é dirigido a um grupo de crentes que já acolheram o querigma e professam as Escrituras como Palavra de Deus.
O DGC ressalta o “caráter missionário da atual catequese e a sua propensão em assegurar a adesão à fé, de catecúmenos e catequizandos, num mundo no qual o sentido religioso se obscurece” (29). A “acentuada característica missionária” (DGC 33) é o grande desafio para o futuro. De agora em diante “a catequese, junto com sua função de iniciação, deve assumir freqüentemente tarefas missionárias” (DGC 52), especialmente com jovens e adultos (DGC 185 e 276). Falar de tarefas missionárias significa falar da primeira proposta a ser feita para quem não conhece vitalmente Jesus Cristo, ou seja: anunciar o centro, o núcleo da fé cristã, o querigma.

             Por tudo o que tratamos acima, creio que é possível perceber a importância dos catequistas começarem a discutir e estudar sobre a Iniciação Cristã em estilo catecumenal e sua importância vital para a formação de cristãos verdadeiramente discípulos e seguidores de Cristo.
             Continuaremos mais tarde...


Fabiano Lucio

[1] LIMA, Luiz Alves de. O que é querigma? Texto impresso de palestra proferida no Instituto Superior de Catequese, Uruguai, 25/08/06.

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