terça-feira, 29 de novembro de 2011

Catecumenato - algumas considerações iniciais...




“Cristão não se nasce, torna-se”.
Tertuliano, teólogo cristão do séc. III.

Quando Tertuliano cunhou a frase acima, o cristianismo era uma religião em crescimento apesar da forte repressão conduzida pelo Império Romano.
Ser cristão era um ato de fé corajoso e perigoso, pois implicava constantemente na perspectiva de ter que testemunhar publicamente sua fé diante dos poderes instituídos por uma sociedade corrompida por velhos e desgastados valores que se mostravam hostis aos valores cristãos. E esse testemunho da fé e das razões de sua esperança, fazia com que os cristãos se sentissem mais intimamente ligados a Cristo e a sua missão.
Dessa forma, era comum que aqueles que eram levados aos tribunais romanos para serem condenados a morte em praça pública, nos anfiteatros ou no Coliseu, fossem louvando e testemunhando (martírio) sua fé no Salvador.
Esse testemunho vibrante da fé era visto pela Igreja primitiva como um estímulo à perseverança e adesão ao Senhor. Os mártires eram o orgulho da fé cristã e seus túmulos se tornavam locais de oração e de veneração. O próprio Tertuliano afirmava que “o sangue dos mártires é a semente da Igreja”.
E o que chama a atenção nesse fato histórico, é que apesar de ser algo extremamente perigoso, o número daqueles que abraçavam a fé cristã só fazia crescer.
A Igreja primitiva, em sua rica diversidade de ministérios e carismas, tinha uma compreensão mais ou menos comum de que o processo de encontro, experiência, conversão e seguimento de Jesus Cristo não era algo rápido nem fácil, pois implicava em mudança de mentalidade, valores, costumes e perspectiva de vida em uma sociedade que pregava algo totalmente contrário a pregação apostólica.
A Igreja compreendia que essa mudança de vida (conversão e adesão a Cristo) levava tempo, às vezes, uma vida inteira.
Os cristãos tinham que ser firmes em suas convicções e dispostos a proclamarem a experiência de fé que tinha experimentado em sua conversão, apesar das barreiras que poderiam encontrar na prática de sua fé.
Ora, isso exigia deles uma fé firmemente fundamentada a ponto de dar a qualquer um que os questionasse as razões de sua fé. Para isso, a jovem Igreja tinha que responder algumas perguntas:
·         Como ajudar (auxiliar) aqueles que foram apresentados a mensagem do Evangelho e fizeram a experiência transformadora de encontro com Cristo a continuar em sua conversão e seu seguimento?
·         Como transmitir as verdades da fé de tal forma que o indivíduo consiga avaliar e refletir sua vida à luz da mensagem do Evangelho?
·         Como introduzir os evangelizados nos mistérios de uma fé que não é visível ou palpável, mas apenas experimentada em sinais, símbolos e ritos?
·         Como fundamentar a fé dos indivíduos no Cristo a ponto de prepará-los para, se necessário, dar testemunho com a própria vida dessa fé diante dos homens e da sociedade?
Esses questionamentos acabaram sendo respondidos de variadas maneiras pelas comunidades cristãs. De modo especial e peculiar, a Igreja Primitiva acabou desenvolvendo um estilo de catequese extremamente articulada e progressiva que conseguia levar os catecúmenos aos mistérios da fé e a sua frutuosa vivência. Era o catecumenato, uma instrução profunda, vivencial e transformadora em que a própria comunidade cristã através de seus membros assumia pessoalmente a iniciação daqueles que procuravam fazer a experiência de encontro com Cristo e desejam assumir sua missão no mundo.
O catecumenato era um processo longo, lento, em etapas, ricamente litúrgico e vivencial, onde se pretendia fazer com que os catecúmenos fizessem, como tantos outros antes deles, a experiência de fé no Cristo e na sua Palavra.
Modelo extremamente rico e eficaz de catequese, o mesmo perdurou até o século IV da nossa era. Porém, à medida que os cristãos foram sendo mais bem aceitos na sociedade, muitas pessoas queriam ser batizadas (muitas vezes não mais pela fé, mas por conveniência). O modelo catecumenal não podia ser mais aplicado pois a quantidade de pessoas que pediam o batismo era tamanha que sua longa e eficiente instrução se tornava cada vez mais complicada para ser aplicada. Aos poucos esse modelo catequético foi sendo abandonado e quase esquecido...
Mas eis que este ilustre e milenar senhor volta a cena, principalmente após o Concílio Vaticano II que o intitula como modelo de toda a catequese...
Aqui no Brasil não foi diferente... Desde a 2ª Semana Brasileira de Catequese (2001), a Igreja no Brasil convoca a todas as dioceses e paróquias, clero e leigos a estudarem e aplicarem o modelo catecumenal como base e referência para todas as atividades catequéticas...
èPor que esse modelo de catequese é tão especial?
èPor que a Igreja tem insistido tanto na sua aplicação?

Bem, meus amigos e amigas catequistas, essas e tantas outras perguntas serão respondidas aos poucos aqui no nosso blog com o objetivo que todos possam conhecer e se apaixonar por esse modelo catequético tão envolvente e transformador... até a próxima postagem!!

Fabiano Lucio
Paróquia N. Sra. Do Carmo

Um comentário:

  1. Achei maravilhoso, pois não tinha conhecimento até então.Agora com a criação dessse blog,acapacitação continua.

    ResponderExcluir